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Se imaginarmos a vida como um imenso rio, teremos riquíssimas imagens para buscarmos uma compreensão mais profunda do próprio Ser.
O rio tem um ritmo que não pode ser acelerado, muito menos desacelerado, entretanto, como não vivemos em sintonia com o seu fluxo, estamos o tempo todo sofrendo a dor da própria rebeldia. Quantas vezes em nossa ansiedade por mudanças, não tentamos acelerá-lo ou quantas vezes nos agarramos ao passado, criando resistências que, também denunciam uma falta de sintonia com a natureza desse rio.
Essa percepção do ritmo universal já foi alcançada por Lao Tsé quando deixou seus escritos. Através da filosofia do Tao, ele nos ensina que o homem deveria viver como a folha de uma árvore que, ao cair no rio, deixa-se levar pela correnteza até o mar de sua transcendência, sem resistência. Isso é lindo e verdadeiro.
Queremos interferir nesse ritmo, justamente por não estarmos ajustados a ele . Na verdade, estamos entorpecidos e envolvidos com a vista esplendorosa do percurso, aquela que a mente nos apresenta no roteiro da própria existência, aquilo que o caminho vai nos revelando, sem percebermos tratar-se apenas de paisagens. A vida nos convida a apreciarmos essa paisagem, no entanto, queremos retê-la e aí começa o nosso sofrimento.
Para muitos, o rio (vida) se desenvolve dentro de um insuportável fluir, e assim, passam a vida lutando para não participarem do seu afluxo chato e ritmado, com isso vivem uma vida miserável, simplesmente por não entenderem os seus propósitos.
Se apenas nos colocássemos na condição de observador, sem perder o contato como a correnteza, estaríamos perfeitamente harmonizados com os objetivos da evolução, a evolução que nos fará encontrar a realização através do encontro com o mar da nossa ascendência espiritual.
Através da busca pelo conhecimento da própria natureza, o apego que surge pelo encantamento da paisagem irá cessar, pois essa é a causa de todo o nosso atraso. Tentamos represar aquilo que não pode ser represado.
A vida é feita de movimento, o Tao é movimento, o homem, portanto, precisa mover-se no ritmo do Tao, no ritmo da vida, não deve permanecer na inércia, preso a zonas de conforto, mas também não pode acelerar esse processo, negando a realidade e refugiando-se em idealizações. O rio precisa entender que é rio e não aquilo que idealiza e se identifica.
Empoçados, perdemos forças, não há mais o respaldo da correnteza, apenas ficamos parados, criando doenças e dificuldades, como acorre com águas que não se movimentam. Evaporados pelo calor das ilusões, negando a própria essência, teremos que participar de um ciclo de sofrimentos e angústias para retornarmos a própria fonte.
O rio é nossa própria natureza, a ilusão de vivermos separados desse rio precisa ser destruída. Quando entendermos que não precisamos buscar nada fora, nos agarrando às paisagens, tudo se transforma, pois aquilo que precisamos ser, já somos.
Deveríamos apenas nos colocarmos como meros espectadores do espetáculo de imagens que se apresentam durante e percurso sem nos envolvermos. Só assim nossa vida encontraria novamente o alinhamento com o Todo.
Nisargadatta Maharaj ensina que é preciso conhecer aquilo que não somos, pois conhecendo aquilo que não somos, aquilo que somos irá se manifestar. Somos esse rio e a margens com suas paisagens sedutoras, não podem se confundir com o que somos. Quanto mais nos identificarmos com elas, mais difícil será nos livrarmos desse cárcere.