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Quem é você? Já se fez essa pergunta? Sim, por que quase todo mundo esquece de si mesmo e vive querendo identificar-se com um personagem ideal, aquele que é apenas uma possibilidade, alguém que considera estar à altura de representá-lo nesse mundo. Não percebe que esse ‘eu virtual’ viverá eternamente no terreno da ilusão, da hipótese, da possibilidade e isso é muito kafkiano. Passamos a vida querendo entrar dentro de um castelo transponível e não percebemos que estivemos o tempo todo revoltados e frustrados, pois deixamos de viver na paz do vilarejo que é a nossa realidade.
Precisamos mudar a direção de nossas buscas, estamos dentro de um ‘encantamento’, totalmente hipnotizados por modelos e ideais de felicidade que surgem de todos os lados, andamos como o cavalo que tenta alcançar a cenoura amarrada à sua frente, ansiosos e preocupados, famintos de coisas que nunca nos satisfazem, essa é a nossa triste realidade, estamos na contramão da estrada, é preciso contornar, pois no fundo sabemos onde esse caminho irá nos levar.
Vivemos atrás de graduações, diplomas e certificações que nos tornem melhores; queremos dinheiro e poder para satisfazer desejos que possam entorpecer as angústias de sermos quem somos e acreditamos que é preciso estarmos envernizados e lustrados para vivermos dignamente. Todo esse esforço estúpido surge do fato de não nos aprovarmos e nem nos aceitarmos.
É claro que todo investimento em si mesmo é muito importante e não podemos nos opor ao desenvolvimento humano, entretanto, não é justo esperar que as conquistas futuras nos tragam qualquer tipo de realização, não podemos viver eternamente de expectativas, pois a vida é um rio que corre no presente, diante dos nossos olhos e tudo isso não nos deixa enxergar aquilo que é óbvio: é preciso nos tornar o que somos.
Não percebemos que já somos especiais, temos uma usina de luz em nosso interior, apenas não nos damos conta disso, queremos preencher com coisas aquilo que precisa ser preenchido com consciência. Acredite, chegará o momento em que teremos de nos esvaziar, pois nossos copos estão cheios.
Não perca tempo se perguntando como fazer o caminho de volta pra casa, acredite, você nunca saiu dela, apenas remova tudo aquilo que não é você, aquilo que você ornamentou com extremo mau gosto dentro de si. Cuidado com os ‘guias’ auto intitulados, cuidado com atalhos que acabam te conduzindo ao abismo, não seja mais um rato seguindo um tocador de flautas qualquer, como os daquele do conto dos Irmãos Grimm (O Flautista de Hamelin), siga a própria intuição, ouça a voz do coração, não há mestre melhor. Tudo o que você precisa ser você já é, acabe com essa sofreguidão.
Não podemos viver também, acreditando que esse mundo deva ser negado, que o mundo verdadeiro é o mundo espiritual, isso é niilismo negativo, tudo isso foi denunciado por Nietzsche. Somos muito mais do que imaginamos, só existe o aqui e o agora, é preciso assumir a nossa condição humana e fazer mais e melhor para mudar essa concepção errônea, é preciso lutarmos por nós mesmos.
Chega de esperança. Como já disse em outros artigos, a esperança é um palavrão. A grande verdade é que não precisamos construir ideais e imaginar condições adequadas para nos sentirmos realizados, pelos contrário, só precisamos acordar e deixar de viver na busca de adequações mundanas para a nossa felicidade. Ninguém terá o poder de nos trazer a felicidade, coisa alguma irá preencher aquilo que já está preenchido, está na hora de assumirmos essa responsabilidade e deixar de olhar tanto para fora. Vamos acordar!
O mesmo Nietzsche disse: Torna-te quem tu és.