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O Reino de Deus é apenas um encontro com a realidade, nada mais. Sofremos por vivermos na mais profunda ignorância (avydhia), enxergando o mundo através de um véu de ilusões.
O Estado de Graça é o nosso estado natural, mas infelizmente, vivemos em busca da realização sem perceber que já somos realizados. É muito difícil convencer alguém de que ele só precisar ser. Ser o que já é.
Por que não nos sentimos nesse estado? Simplesmente por estarmos fora da nosso estado natural, fomos expulsos desse paraíso no momento em que nos identificamos com o mundo e formos hipnotizados pela paisagem. Nossa realidade se reduz a conceitos, nomes e formas, nada mais. Claro! Estamos presos no universo semiótico da mente. Vivemos tão envolvidos com esses símbolos que nos esquecemos daquilo que realmente somos, simplesmente, perdemos o contato com a própria substância.
A realidade de um anel de ouro é o próprio ouro, se removermos o nome e a forma de um anel o que sobra? Aquilo que é a própria substância dele, o ouro. O mesmo ocorre conosco, estamos presos, por crenças equivocadas, ao fenômeno e esquecemos da própria essência.
Por conta dessa identificação profunda com a mente, hoje já não sabemos mais quem somos, apenas sentimos os efeitos e implicações de todas as construções mentais infelizes que passaram a reger nosso caminho. O Ser humano se comporta como uma onda tola, que se lança na superfície com galhardia, sem perceber que é efêmera e que toda a grandeza do oceano a que pertence já é a sua própria natureza.
O verdadeiro despertar passa pela compreensão de nossa própria natureza e negação (neti neti) daquilo que não somos. Tudo que existe de ruim dentro da gente, não é nosso. Tudo que não se ajusta ao nosso “Bem Maior” é ilusão.
A nossa imaturidade responde pela falta de recursos emocionais para processarmos de forma eficiente os eventos externos, assim problematizamos tudo.
Criamos um programa emocional que é resultado de experiências ruins e frustrantes e nos identificamos com tanta intensidade com esse programa que perdemos toda a conexão com a Realidade.
É claro que as nossas crenças e valores foram reforçadas por ações externas, mas não adianta procurar culpados, é preciso mudar a direção de nossas buscas, olhar para dentro de si, partindo do princípio de que não somos o personagem envolvido nessas tramas mentais.
Está na hora de fazermos o caminho de volta. O que é nosso é eterno, incontaminável e perfeito. Somos parte do Universo, Cristo está em nós, Deus, Pai, Allah, seja lá o qual for o nome que você queira usar, é você! Não existe algo para transcender ou evoluir, apenas seja!
O ego suja, o Self limpa e limpa com a dor, com o trabalho, com as experiências reencarnatórias de ajuste, enfim, o Todo atua no desenvolvimento humano e se articula em torno de um processo de limpeza e manifestação.
O grande problema do ser humano é achar que ele é o lixo que carrega. O ser humano se identifica tanto com esse monturo de coisas inúteis que acumula, que a sua natureza se transforma em sofrimento. O príncipe Sidharta preconizou o sofrimento como a primeira Nobre Verdade, pelo fato do sofrimento representar a forma que escolhemos viver. Transformamos informações em desconforto e vivemos uma luta vã contra as ilusões, como se estivéssemos enxugando um iceberg.
Precisamos ser o que já somos. Voltar a casa do Pai é isso, é retornar para a própria realidade, sair do inferno de ilusões que sempre encontrou aderência em nossa alma. Esse é verdadeiro sentido da parábola do filho pródigo. Esse é o retorno daquele que estava morto e agora vive.
Como na história, nós conhecemos o mundo, gastamos nossos recursos, experimentamos os prazeres terrenos e quando acordamos, estávamos em piores condições que os animais.
Voltar à casa do Pai significa voltar-se para dentro de si mesmo e busca desse paraíso perdido. Significa reencontrar-se com a única e eterna Realidade.